Laura
Laura, a mais maldita e mais desejada em toda a serra... Olhos como os seus Deus não deveria dar a uma mulher destinada a ficar viúva tão moça ainda. Ou teria ela de os não ter ou teriam os homens de andar cegos para que não vivesse sempre em risco de perdição. E tudo no seu corpo estava-lhe feito à medida, ou pelo mesmo valor das duas pérolas negras que faziam coruscar desejos. A única fortuna que lhe ficara, depois de o marido morrer, foram aquele corpo e aqueles olhos que já levara no dote. “Negros como os do Diabo”, diziam as velhas pudicas, compondo as saias nas pontas dos pés, ou as raparigas invejosas de os seus não serem iguais. Para elas, beleza e pecado eram causa e consequência, lodo e lódão sinónimos absolutos. Em reservada lura se acoitaria ela, sem nunca se ver o efeito da devassidão. Pois pudera! Se vivera quatro anos com o marido sem gerar alma viva... Era estéril, erma como os penhascos da serra, podia dar-se a gostos sujos sem nunca ter de lavar cueiros
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