Sinto o peito todo inchado orgulho!
No hóquei em patins deixámos de ser uma potência mundial (nunca permitiram que fosse uma modalidade olímpica para nos impedirem de termos uma dúzia de medalhas), no futebol optámos por treinar boxe e saltos empranchados, no atletismo lá nos vamos safando no triatlo e no triplo salto. O râguebi salvou-nos a honra, encheu-nos o peito de orgulho, depois de vermos os nossos a baterem-se contra os neo-zelandeses estamos certos que nem tão cedo os espanhóis terão coragem de cá voltar.
Provámos que pelo menos no râguebi os últimos são os primeiros, Cavaco percebeu isso pois depois de não ter elogiado os sucessos de Vanessa Fernandes no triatlo ou de Nelson Évora no triplo Salto o Presidente da República desfez-se em elogios ao último lugar dos “lobos”. Até explicou que ele que já correu e até subiu a coqueiros não teria corpanzil para enfrentar as talegas neozelandesas.
Ficámos em últimos? Não é isso que nos desonra, nesta modalidade o último soube ao primeiro lugar, somos o Liliput do râguebi mundial, somos pequeninos, pobres, mal alimentados, nascemos enfezados, muitos dos nossos homens e mulheres nasceram sem a posta do meio, alimentamo-nos à base de sandes de courato e de pão com azeitonas, como se tudo isso não bastasse ainda temos Sócrates em primeiro-ministro e Marques Mendes como candidato ao lugar. No meio de tanta adversidade o último lugar da selecção nacional de râguebi soube-me a primeiro, um feito à altura da grandeza dos nossos Gil Eanes.
Se o feito tivesse sido alcançado por gente das obras, habituada a placar baldes de massa e alimentados à base de resmas de proteínas e gorduras de suíno nem seria de estranhar, o perder umas horas nas obras para se treinarem nem teria sido muito grande, meia dúzia de ordenados de servente de pedreiro não seria grande sacrifício para esses atletas habituados à dureza da vida.
Mas não, os lobos abdicaram de muito mais que o nosso atleta comum que vez no desporto a forma de alcançar uma boa posição na vida, os lobos prejudicaram a sua boa posição na vida para treinarem e irem ao mundial, não pediram uma semana de dispensa ao pato bravo da construção civil, deixaram as suas empresas e escritórios de advocacia, entre duas placagens têm que telefonar para se assegurarem que está tudo a correr bem.
Como se tudo isto fosse pouco gritam o hino português como já ninguém ouvia, nem nisso os velhos comandos da Amadora seriam melhores, enche-nos de orgulho ver que ainda há portugueses que sabem o hino, gostam de o cantar e ainda por cima o fazem em voz alta e com rara convicção.
Que se saiba também Vanessa Fernandes e Nelson Évora são amadores, praticam modalidades em que o desporto português não tem tradição, conseguem medalhas que obrigam a uma dedicação de 24 horas por dia durante os 365 dias do ano. Talvez porque não tenham vozeirão no momento de cantar o hino, porque não pedem autógrafos aos adversários ou porque o içar da bandeira no mastro principal os emociona ao ponto de não conseguirem cantar o hino, não têm direito a grandes recepções no aeroporto com painéis dos patrocinadores e raparigas pagas à hora para gritarem de forma esganiçada e muito menos aos elogios quase babados do Presidente da República. Enfim, coisa fina é outra coisa, estes dois atletas não são de boas famílias e os apelidos não têm o perfume do status social.
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