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quinta-feira, 27 de setembro de 2007

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Terceira via

No tempo em que havia apenas caminhos de cabras, os portugueses saíam de Lisboa e levavam sete horas até chegar a Braga. Iam de Faro a Bragança seguindo as curvas de nível, e antes acautelavam testamento, para o caso de falecerem no caminho.

Um dia chegou a Europa e trouxe-lhes vias rápidas, e auto-estradas que rasgavam as montanhas, e tinham terceira via nas subidas. A ideia era poupar tempo, era habituá-los lentamente ao caos da civilização, ao moderno frenesi de quem tem pressa e um horário para cumprir. Porém eles, deformados pela história, esquivaram-se ao conceito. E ninguém lhes tira da cabeça que a terceira via das estradas é a dos romeiros que vão a pé a Fátima. Porque cumprir, só as promessas à Virgem.

Agora, indo para a estrada, os condutores portugueses ainda afivelam a máscara do frenesi moderno. Porém, atacados de piedade, oitenta por cento deles reservam a terceira via aos peregrinos. Alguns lá se lembram da Europa, esse hipermercado da civilização. Mas quanto a modernidade, a faixa do meio é-lhes mais que bastante. Encostam os cotovelos ao balcão, mudam de vez em quando de quadril de apoio, e ficam-se a ver passar algum civismo que passa.

Vivem muito bem assim, na alegre inconsciência dos cretinos. E quando calha matam-se uns aos outros, com uma tranquilidade ainda maior.

Jorge Carvalheira

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