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terça-feira, 13 de novembro de 2007

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Ao Sérgio Ribeiro, meu querido amigo

Da varanda do Hotel, o homem observava os putos empoleirados no muro, namorando o azul convidativo da piscina. Eram cinco meninos andrajosos, sujos e seguramente famintos. Mas nada lhes interessava mais do que aquelas águas maravilhosas.


O homem gritou-lhes a pergunta desnecessária: querem tomar banho na piscina? Os meninos anuíram, mas invocaram temerosos os empregados do Hotel. “Quem manda aqui sou eu - retorquiu o hóspede - e se vos perguntarem digam que vos autorizei o banho.”


Como por magia, no instante seguinte os meninos mergulhavam felizes, alheios aos parcos turistas que nas cadeiras recebiam sol. Minutos depois, um empregado aflito desfez o sonho e enxotou as crianças, ainda molhadas e com as roupitas nas mãos, para fora da cidadela dos protegidos. O hóspede, ainda assim contente, recuou para dentro do quarto mesmo a tempo de impedir que os deditos dos meninos indicassem ao diligente funcionário que “dono” lhes tinha concedido a autorização para o banho retemperador.


Esperou uns segundos na penumbra, para se certificar de que as crianças não seriam agredidas. Só depois se sentou na cama e recuou ao seu tempo de menino casapiano. Perto do campo de futebol, existia um tanque grande mas inacessível durante o dia, porque os gansos mais velhos o tomavam só para si. Por isso, nas noites quentes, o menino fugia da camarata e, sozinho, no tanque, imaginava-se a cruzar piscinas e a mergulhar até às profundezas do oceano. Nunca sentiu frio. Nem sequer medo. Apenas uma alegria imensa, que noite após noite reforçava.


Quando cresceu, passou a aventurar-se nas docas de Belém. Imunda água e depois? Nada podia substituir o prazer de um banho de mar nem a sensação de liberdade que propiciava.


Escrevi isto agora mesmo, porque acabei de ler um conto maravilhoso e sentido do meu querido amigo Sérgio Ribeiro, que ele garante ser ficção, e eu assevero ser vida, realidade, testemunho de muito daquilo que vivi e passei. Infelizmente, muitos Toinos e Zés, meus irmãos de condição, estão já mortos ou vagueiam por aí, perdidos para a vida, em consequência do abandono canalha de que foram vítimas. Muitos dos que os olham de soslaio, até com repulsa, são os responsáveis directos pelos seus infortúnios.


Tudo isso me faz sofrer imenso. Cresci com eles, ainda recordo os sonhos que acalentavam (o Carriço, o Luís e o irmão Francisco, o Barros Costa, o Zé Maria, o Mansabá, o Agostinho, o Vasco e tantos outros…). De repente desapareciam e só os recuperávamos mortos, numa idade em que se não morre.


Como é que se vive com isto? Como é que se suporta a ideia de que, se nesse tempo tivéssemos, na Casa Pia, um Sérgio Ribeiro ou uma Catalina Pestana, poderíamos hoje estar juntos e felizes. Nós e os nossos filhos. Nós e as nossas vidas. Nós e os sonhos todos que sonhámos em conjunto.

Obrigado Sérgio Ribeiro. E podes crer que o Tóino há-de viver feliz por ter ter como amigo.

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