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quinta-feira, 18 de outubro de 2007

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A DIREITA BOURBÓNICA

«A ironia nunca castigou ninguém tão cruelmente como os Bourbons franceses. Em 1792, perderam o trono de França. Restaurados graças a uma guerra europeia, caíram novamente em 1830. Com tudo a seu favor para recuperarem a coroa na década de 1870, viram-na escapar uma terceira vez. Porquê? Porque nunca conseguiram deixar de querer ser reis à antiga, quando os tempos já não estavam para isso. Daí o célebre dito sobre os Bourbons: "Nada esqueceram e nada aprenderam." Em Torres Vedras, no passado fim-de-semana, vimos a nossa direita bourbónica. Os líderes do PSD também nada esqueceram e nada aprenderam.

Este congresso terá apanhado de surpresa quem viveu das rações de sabedoria distribuídas durante as últimas semanas. Em vez do esperado festival de descamisados, tudo se reduziu, perante uma plateia apática, em saber se Santana falava ou Ferreira Leite cedia aos rogos para ficar. Em suma: Menezes não é o que toda a gente disse que era e o PSD continua a ser o que toda a gente sempre soube que era.

Menezes apareceu enredado em cálculos complicados. Não quer o referendo europeu, para não andar de braço dado com Sócrates; não pede a descida dos impostos, "para não dar razão ao PS"; acha que a regionalização, afinal, não é uma "prioridade". E sim, é verdade que lastimou o encerramento das maternidades, os "direitos sociais retirados", e os 40.000 candidatos frustrados a professor. Mas ninguém o ouviu oferecer-se para reabrir maternidades, devolver direitos e dar emprego. Admirem a arte: condena o que se faz, sem dizer que faria diferente; e para não dar razão ao PS, deixa o PS ter razão.

O homem que todos imaginavam chegado do mato, bravio e insociável, andou a pedir força àqueles que, segundo a teoria em vigor até ao fim-de-semana, devia ter pendurado e esfolado. Foi preciso Manuela Ferreira Leite lembrar-lhe que convinha haver "renovação". Menezes, como os seus antecessores, tentou "federar" e "unir", e com os mesmos resultados sofríveis. No fim, exibiu ao mundo uma comissão política recheada de nomes que costumavam fazer manchete dos jornais há quinze anos - e nem sempre pelas melhores razões. Entretanto, Santana foi-se posicionando para gozar sob Menezes a vida que levou sob Barroso.

Há razões para espanto? Não há. Menezes foi adjunto do ministro da Educação no Bloco Central e secretário de Estado de Marques Mendes durante o cavaquismo. Só o facto de a política estar tão chata pode explicar que ninguém tivesse tirado consequências deste CV, preferindo sonhar com um improvável outsider. Menezes nada tem a ver com uma revolução ideológica ou social, mas com a arrastada guerra civil na direcção do PSD, entre os que Cavaco Silva fez ministros e os que só chegaram a secretários de Estado (ele e Santana). Ninguém mudou, nada mudou: são os mesmos, com as mesmas ronhas e quezílias.

Basta ouvir Menezes. É a velha escola. Arruma-se na "esquerda democrática", como era hábito no PPD em 1975. Acredita no betão, como acreditavam os governantes do PSD em 1987. Insensível à contradição, acusa Sócrates de beliscar os "direitos adquiridos" e exige-lhe ao mesmo tempo que combata o "monstro da despesa". Quer conservar o "Estado social" e propõe-se privatizá-lo. É estatista, é liberal - é o que for preciso, desde que não tenha de ser nada de claro e definitivo. Foi sempre assim que os líderes do PSD se pouparam a debates e opções difíceis.

A questão não é Menezes, tal como não foi Santana ou Mendes. É a cultura política das elites do PSD, de que Menezes, Santana e Mendes fazem parte há décadas. "Para que serve o PSD?", perguntou alguém. Liderado por esta gente, serve para manter o país tal como está, porque foram eles, no poder em 20 dos últimos 26 anos, sozinhos ou coligados, que mais do que ninguém o fizeram assim - no que tem de bom e de mau. Para uma alternativa é que não serve certamente.

Segundo conta Freitas do Amaral, Sá Carneiro (contra quem Menezes fez guerra em 1978) pensava, no fim de 1980, em livrar-se dos seus colegas da direcção do partido. Já não provocou mais essa cisão, que teria sido a terceira no PSD, depois das de 1975 e 1978. Interrompeu-se assim a busca de "uma linha clara e firme", para além dos equívocos e misturas do PREC. A consequência foi esta direita partidária, nas mãos dos que já então, contra Sá Carneiro, preferiam a confusão e dos que, sem Sá Carneiro, a passaram a preferir também. Tal como os Bourbons, talvez tenham outra oportunidade. De uma coisa, porém, podemos estar certos: vão descobrir novamente maneira de a desperdiçar.»

Rui Ramos escreve um dos melhores comentários ao congresso do PSD.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

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