Outra perspectiva da vida de um eurodeputado
Na edição deste Sábado da revista Tabu, que acompanha o jornal Sol, pode-se encontrar um artigo interessante sobre a vida dos eurodeputados nacionais em Bruxelas. O ângulo apresentado pelo jornalista é criativo e revela ao leitor uma realidade diferente e menos "dourada" daquela que é vulgarmente referenciada para todos os políticos que optam por fazer política no Parlamento Europeu.
A pretexto da morte recente de Fausto Correia, "encontrado sem vida em casa" em Bruxelas, vários eurodeputados deram conta dos seus receios, das suas ansiedades, dos seus problemas e dificuldades que acarreta o seu estilo de vida.
Muito interessante e, de certa forma surpreendente, é o "desabafo" da eurodeputada socialista Edite Estrela: "Se me sinto mal de noite a quem recorro? Nós não conhecemos bem os vizinhos, nem sabemos como funciona o sistema de Saúde?" Uma declaração compreensível dado que a morte de alguém próximo suscita momentos de reflexão profunda e desperta determinados sentimentos que raramente vêm ao de cima.
A isto junta-se o ambiente soturno e cinzento constante de uma cidade que, embora sofisticada, é pouco convidativa para a socialização.
Quem conhece minimamente Bruxelas e o sistema de funcionamento das instituições comunitárias apercebe-se de realidades contraditórias: Por exemplo, o edifício do Parlamento Europeu em Bruxelas é o paradigma do ideal europeu, onde confluem todas as nacionalidades e culturas e nenhuma se destaca, criando um ambiente cosmopolita e multicultural, onde tudo se passa a uma velocidade estonteante (o eurodeputado Carlos Coelho disse à Tabu que chegou a "ter 14 reuniões num dia"); Mas, por outro lado, a "Bruxelas comunitária" tem um lado cinzento e frio, onde as pessoas trabalham em conjunto durante várias horas por dia, mas onde não convivem. No fim do horário de trabalho, os eurodeputados saem dos gabinetes e vão para casa. Sozinhos. Durante anos, é assim a vida diária destas pessoas.
A verdade é que a vida de eurodeputado comporta uma certa solidão e um espírito resistente. As constantes deslocações entre Bruxelas e Lisboa e Bruxelas e Estrasburgo (pelo menos duas vezes por mês para reunir em plenário) são muito desgastantes. É certo que os ordenados são aliciantes, no entanto, o sacrifício também é elevado, sobretudo para aqueles que levam o trabalho a sério.
Ainda em Março último, o autor destas linhas cruzou-se com Ilda Figueiredo no voo da Tap do final da tarde de Bruxelas para Lisboa. A eurodeputada comunista é também vereadora na Câmara de Gaia e a pretexto de assuntos antigos o Diplomata esteve durante alguns minutos à conversa com Ilda Figueiredo. Com vários documentos em cima das pernas, a eurodeputada ia aproveitando as duas horas e vinte minutos de voo para trabalhar.
Eram cerca das 21 e 15 de uma Quinta-feira quando o avião chegou à Portela e o autor destas linhas, cansado que estava, tinha alguém à espera para seguir descansadamente para casa nos arredores de Lisboa. Quanto a Ilda Figueiredo, ainda ia apanhar o avião para o Porto nessa mesma noite, porque na manhã seguinte, bem cedo, tinha compromissos político-partidários. A agenda, segundo informou a eurodeputada, estava preenchida para todo o fim-de-semana. Na Segunda-feira, voltaria para Bruxelas para mais uma semana de trabalho. Alexandre Guerra
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