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terça-feira, 13 de novembro de 2007

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O PUTO REGUILA - duas notas e episódio 1

1. Pequena nota prévia e dedicatória:
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Esta estória está pelas "gavetas" há perto de 20 anos. Saindo delas de vez em quando, levando uns "retoques" e regressando ao seu poiso. Agora vem para as ficções do cordel, com uma dedicatória: ao Pedro Namora, pela sua luta que é de todos nós.
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2. Advertência habitual:

Não há, nem nunca houve, o Toino. Como não há, nem nunca houve, o Zé. Houve, e há, quem tenha servido, com o conhecimento das suas vidas, para que estes Toino e Zé existam nesta estória.
Os amigos, esses há, sempre houve, e – espero – continuará a haver! Uns vão, outros voltam, uns deixam de ser amigos, outros aparecem e ficam.
É a vida. Que se pode contar. Assim. Aos bocadinhos.
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O PUTO REGUILA

Gostava do puto.

Por mais que dele me dissessem cobras e lagartos, que me pintassem suas travessuras com cores de barbaridades, gramava o puto, pronto.

Estar tanta gente contra ele, e com tão evidente má vontade, talvez até fizesse com que eu gostasse mais do puto, do Toino.

É verdade que, às vezes, ele parecia querer dar razão a quem o tinha "de ponta", como se costuma dizer.

Era arisco, rabiteso (ora aqui está um adjectivo que se ajustava ao seu comportamento e até esteve para ir para o título deste contar), reguila. Era isto: reguila.

Ninguém "fazia farinha" com ele.

Na escola, as professoras tinham‑se visto aflitas com o Toino.

Irrequieto, indisciplinado, sempre a perturbar as aulas, com graças e brincadeiras nem sempre a propósito, capaz de liderar movimentos de contestação se lhe subia a mostarda ao nariz.

Uma "peste".

Mas o Toino fez a "quarta classe" nos quatro anos considerados necessários e suficientes. Sem qualquer favor, apesar de algumas pessoas mais contra ele acharem que o que as professoras tinham querido era ver‑se livres da "peste". Mas eram mesmo estas que lhe reconheciam grande esperteza. Mais: inteligência, curiosidade e capacidade de apre(e)nder rapidamente.

E não só isso.

As professoras também lhe reconheciam, quando repousadas ou esquecidas das tensões e chatices que ele prodigamente lhes provocava, que o Toino era, por vezes, de uma ternura e de uma meiguice fundas embora fugazes, reveladoras de grandes carências afectivas

Era, também e sobretudo, de uma lhaneza e lealdade que parecia tão natural nele como respirar.

Isto pensavam, e às vezes diziam, as professoras.

Contavam até casos em que o Toino, com sacrifício pessoal tão espontâneo que era difícil de nele reparar, ajudara ou apoiara outros colegas, sobretudo o Zé, seu vizinho casa com casa, companheiro e cúmplice, o seu "quase irmão" como ele um dia dissera. O Toino!, que já tinha tantos irmãos que se lhe perdia a conta ou o conto, porque era um daqueles falsos filhos só únicos por tantos serem os irmãos que os pais lhe tinham "oferecido".

Até desconfiavam, as senhoras professoras, que algumas das coisas de que o acusavam, e que tanto contribuíam para a má fama do Toino, não eram da sua responsabilidade mas culpa todinha do Zé.

O Toino não se importava, ao que parecia. Queria lá saber, dizia ele. Ou dava‑o a entender. As suas costas eram muito largas e as do Zé, franzinote, pareciam e eram bem mais estreitas.

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