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segunda-feira, 12 de novembro de 2007

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Promessas natalícias
Por Alice Vieira
O ATAQUE É CERRADO. Chega pelo telefone , pelo correio, por SMS, por rádio, por televisão.
A crer no que todos prometem, a nossa vida será o paraíso.
Viagens, compras, casa, carro, computador, férias - tudo fica, subitamente, ao alcance da nossa bolsa.
Porque é só preciso ligar, clicar, responder, preencher um mísero impresso. Nada mais simples. Nada mais fácil. E tudo será nosso num abrir e fechar de olhos.
"Com a linha de crédito X pode realizar os seus sonhos", garante-me a carta de uma instituição bancária na minha caixa de correio. Dão-me acesso ("especialmente para si"- e se eles pensam especialmente em mim, quem sou eu para recusar) a "um plafond de dois mil euros com aceitação automática", e a partir daí a gente já nem lê o resto, tem ali dinheiro para gastar, isso é o que importa, e eles lembram que o Natal está a chegar e que tudo isto lhe vai dar "um brilho especial".
Tudo tão fácil.
De repente temos todos os problemas resolvidos. As crianças pequenas que querem o boneco que deita bolhas pela boca, e as mais velhas que se aliam aos adultos e querem telemóveis topo de gama, MP3, iPod e outras maravilhas fatais da nossa idade, e a reforma dos móveis da sala, e um segundo automóvel sem o qual vivemos tão mal, e aquela semana em Porto Galinhas que estamos sempre a adiar - tudo imediatamente resolvido.
E o hipermercado também ajuda, porque somos felizes possuidores de um cartão que nos permite pagar tudo só daqui a três meses. E outra grande superfície deu-nos ainda a possibilidade de fazer a reforma inteira da cozinha em suavíssimas prestações ("suave" é sempre o termo utilizado quando se fala de prestações), tão suaves ou mais do que as que já utilizamos para o pagamento do colchão ortopédico que oferecemos à nossa sogra e que até tinha uma artista qualquer da telenovela a fazer a publicidade nos cartazes.
E todas as noites atendemos telefonemas ou recebemos mensagens de instituições bancárias a oferecer crédito para tudo com que sonhamos, e nós sorrimos felizes, caramba, como os bancos gostam de nós, como eles só querem a nossa felicidade e o nosso bem-estar, como nos simplificam a vida.
Depois um dia ouvimos na rádio que os portugueses continuam a endividar-se cada vez mais, e até sorrimos, e temos pena deles, desses portugueses endividados, palermas, ter dívidas, que horror!, nós não, nós temos apenas umas suavíssimas prestações de meia dúzia de tarecos sem importância, sabemos perfeitamente controlar as despesas, claro que sabemos, e além disso os bancos garantiram-nos todo o apoio.
Até ao dia em que de repente descobrimos que a meia dúzia de tarecos foi aumentando descontroladamente sem darmos por isso, que se amontoam as facturas para pagar - e então aprendemos à nossa custa que um banco, ou qualquer instituição semelhante, entre muitos sorrisos, promessas e actores e actrizes de televisão a aliciar o pessoal, nunca nos quer dar nada.
O pior é que, geralmente, é uma descoberta muito tardia, quando o sonho se transforma, de repente, em pesadelo.
«JN» de 11 de Novembro de 2007

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